“Você já viu o filme BOPE? O que você acha da liderança do
Capitão Nascimento. Acha uma liderança boa ou ruim?”
Esta pergunta me pegou de surpresa e foi feita por um
gestor em uma das minhas entrevistas para o cargo de instrutora de treinamentos
de uma operação bancária.
A pergunta foi crucial porque ele adotava o estilo de liderança do personagem Capitão Nascimento e um instrutor para trabalhar na
equipe precisava ter afinidades com ele.
Segundo o site de empregos
CareerBuilder, dois terços das empresas contrataram mal no último ano e
gastaram de $20 a $50 mil dólares em contratações equivocadas. Na Zappos, a empresa gastou mais de $100 milhões em má contratação de executivos e atualmente está adotando a helocracia, se desfazendo da estrutura hierárquica tradicional de gerentes. Um dos principais motivos para essa má contratação é a pressa em
preencher a vaga e muitas empresas estão pagando alto por isso também no
Brasil.
Em agosto de 2013 treinei durante vinte e quatro dias dez profissionais
que passaram no processo seletivo para atuarem como especialistas
em retenção de seguros de um grande banco. Em dezembro de 2013, apenas quatro
ainda estavam no cargo e hoje, nove meses após a contratação e treinamento, somente dois permanecem na operação, porém foram realocadas para outra
atividade.
Quais
são os bastidores da má contratação?
Pessoa errada no lugar certo pessoa
certa no lugar errado
Durante o treinamento
ficou evidente que alguns profissionais não tinham o perfil para retenção, o
que se confirmou após os três primeiros meses. Alguns pediram demissão porque o
trabalho não estava dentro daquilo que esperavam e outros foram demitidos.
Lembro
que quando terceirizava o departamento de marketing da NTC Kmack, em uma das
reuniões gerais, um dos gerentes pediu a demissão de uma colaboradora
que estava atuando no departamento financeiro e que inclusive já tinha
trabalhado na recepção sem sucesso. O diretor não concordou com a demissão e
falou: “deve existir um cargo na empresa aonde ela vai se encontrar e ser
produtiva”.
Três
anos se passaram e essa profissional foi realocada para o Departamento Pessoal, fez curso de Gestão em RH e em 2010 ocupou o cargo de gerente de RH.
Planos de carreira?
Durante o treinamentos duas pessoas contratadas estava
dispostas a permanecer seis meses na operação para, após este prazo, se
candidatarem a uma vaga como instrutor de treinamentos ou na área de qualidade.
Não conseguiram ficar nem três meses..
Será falta de foco e objetivos dos próprios candidatos?
Uma pessoa mal
aproveitada em uma função é um grande prejuízo para uma empresa e para a
carreira desse profissional e a recíproca é
verdadeira: quanto mais acertar, mais a empresa ganha. Uma boa contratação reflete
diretamente em resultados positivos, melhorias no ambiente organizacional e
aumento da lucratividade. Todo esse
processo de erros não é apenas responsabilidade do recrutador, muitas vezes da política da empresa.
Os exemplos reais que citei acima mostram que o que a empresa
deseja em termos de perfil e competências de um profissional para determinado
cargo, o que ela alcança, o que o próprio candidato quer e a imagem que ele tem de si, nem sempre são as
mesmas, mas existe o cargo certo para a pessoa certa.
A
entrevista
“Porque você se candidatou a uma vaga nesta empresa?”
“Quais
são os seus defeitos e suas qualidades”?
Muitos
candidatos, ou pelo menos aqueles que participam de cursos, sabem exatamente o
que o entrevistador quer ouvir, pois vários vídeos de dicas sobre as respostas
certas já foram publicados no Youtube, inclusive pelo Max Gehringer, então é
melhor rever seus conceitos sobre contratação ou pelo menos mudar o repertório
de perguntas.
A maioria das pessoas costumam passar uma tinta brilhante
pelos seus talentos para impressionar o entrevistador. As pessoas nunca são
“agressivas” e sim “assertivas” e geralmente estão se candidatando a vaga porque "amam o que fazem".
Vejam
o vídeo de um processo seletivo da Heineken:
Outra estratégia inovadora para entrevistas com profissionais
de atendimento, por exemplo, é fazer uma parte da entrevista por telefone, pois desta forma o entrevistador vai sentir a mesma sensação que o cliente sentirá ao conversar com aquela
pessoa. Ela transmite simpatia e empatia por telefone? É agradável? Demonstra
alegria e interesse na voz? Tudo isso poderá ser avaliado além do contato
pessoal, experiência e qualificações.
Se
90% dos entrevistadores tivessem habilidades em leitura de linguagem corporal,
talvez fosse um ponto a favorecer na seleção. Para cargos de alto executivos,
algumas empresas nos EUA, na Europa e algumas multinacionais no Brasil já
adotaram a filmagem da entrevista para uma análise posterior. Muitos
profissionais de RH acham um exagero, mas você contrataria um alto executivo
sabendo que ele mentiu várias vezes durante a entrevista? Nas gravações e com
um profissional certificado em leitura de Linguagem Corporal, identificar
mentiras, gestos incongruentes é uma tarefa fácil.
“Você já viu o filme BOPE? O que você acha da liderança do
Capitão Nascimento? Acha uma liderança boa ou ruim?”
A minha resposta foi:
"Acho que dentro daquela equipe, do perfil da equipe, era o
líder adequado.”
O gestor estendeu a mão e falou: "Muito prazer, eu sou um Capitão Nascimento".
Candidatos responderam
que era uma liderança péssima, reacionária, etc. foram descartados imediatamente.
Comentem! O objetivo deste artigo é o debate de ideias!
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