sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Dicas sobre a comunicação. Pressuposição e Leitura Mental.

Se o pensamento corrompe a linguagem, a linguagem também corrompe o pensamento. George Orwell



Você já prestou atenção como se comunica ou no modo como os outros se comunicam?
A comunicação através da linguagem é a nossa base de interação social. A linguagem torna nosso mundo interior ou nossa visão desse mundo algo audível ou visível. Isso é excelente desde que não se crie mal entendidos.

Roger Ellerton autor do livro  Live Your Dreams... Let Reality Catch Up’ afirma que: “Como alguém que recebe uma mensagem, é interessante você perceber o que está pressuposto do que você supõe baseado na sua interpretação através dos teus filtros, valores, crenças ou história de vida”.

É importante destacar que o conceito de território da PNL também se aplica a linguagem, ou seja, o mapa (palavras) não é o território (experiência sensorial).
Mas o que isso quer dizer?
Em resumo: ao usar a linguagem para expressar nossas experiências, outras pessoas vão interpretar essas experiências com base na visão de mundo DELAS e não a sua.
Para que ocorra uma interpretação correta, neste caso é necessário o dissociar. Dissociar é ter empatia? Não. Ter empatia é tentar se colocar no lugar do outro. Dissociar é ver a situação de fora, é a terceira posição.

Neste artigo vou focar nas Pressuposições Linguísticas e na Leitura Mental com foco APENAS  nos estudos da PNL e da  linguagem hipnótica.
O que eu vou tratar neste artigo é baseado nos estudos de Richard Bandler, Milton Erickson, Roger Ellerton, Joseph O´Connor, entre outros.


PRESSUPOSIÇÕES (PNL)
Como funciona o consciente x inconsciente na comunicação?

Observe a imagem.



Esta imagem da série Game of Thornes  vai nos dar um exemplo de como o cérebro capta as informações. A parte consciente do nosso cérebro vai prestar atenção na personagem Cersei (Lena Headey) que esta suja e sangrando, bem como na expressão de tristeza.

 O resto, a parede branca, uma janela no fundo, as duas pessoas que parecem soldados, a mulher de amarelo que grita, a mulher que está com o braço levantado ou o homem a esquerda  com os braços levantados fazem parte do cenário e são captados pelo inconsciente.

Por esse motivo, as técnicas de colocar marcas de produtos em um cenário dão certo. O consciente pode não captar em uma cena em movimento, mas o seu inconsciente vai registrar e guardar, guardar e guardar. Quanto mais vê essas imagens, mais vão se tornar comuns e amigáveis, mas isso é tema para outro artigo!

As pressuposições linguísticas são os cenários da fala.
São tudo que está por trás, paralelamente e que completam o tema principal.
Mas atenção! As Pressuposições Linguísticas  são ideias, palavras que estão na fala e não o que você supõe. Assim como o cenário da cena do nosso exemplo, as pessoas estão lá, os guardas, a janela no fundo, o muro branco, etc.

Se fôssemos transformar a cena de Game of Thornes em um texto a ideia central seria: 

Mulher suja e sangrando com ar de tristeza.

As pressuposições seriam:
Dois guardas de verde
Mulher de amarelo gritando
Muro branco
janela no fundo
homem gritando levantando os braços
mulher de preto levantando o braço
Resumindo: as pressuposições linguísticas são os cenários da fala/texto junto com a ideia central.

Vamos supor que eu escreva:
“Hoje quando levantei cedo, antes de tomar o meu café e ler as noticias reparei que estava novamente sem energia elétrica”. Os serviços estão cada vez pior no Brasil.

A ideia central na minha frase é a falta de energia e que esses serviços estão piorando no Brasil, o resto, o levantar cedo, tomar café, ler as noticias são as pressuposições, os meus cenários da linguagem.

Então, as pressuposições são:
·         Levantei cedo hoje
·         Tomo café depois que levanto
·         Leio as noticias de manhã
·         Estava sem energia elétrica
·         Já aconteceu a falta de energia em outras ocasiões (novamente)


E se alguém afirmar, após ler minha frase que eu sou bem informada sobre tudo o que acontece no mundo?
Se trata de uma leitura mental porque eu posso ler apenas as noticias de celebridades!

Outro exemplo:
Uma pessoa fala:

“Hoje depois da minha corrida matinal, tive vontade de sentar, tomar uma água de coco e observar o mar, mas tinha um compromisso logo cedo com um cliente para decidir os rumos da empresa, então decidi voltar para casa”.

Ideia central: Tinha um compromisso logo cedo com um cliente
Pressuposições:
·         Corro pelas manhãs (corrida matinal)
·         Onde moro tem mar
·         Trabalho em uma empresa
·         Atendo clientes
·         Tive um compromisso cedo
·         Gosto de água de coco

E se eu falar que o autor do texto é um empresário rico e que está em plena forma física?
Novamente estarei fazendo uma leitura mental, tirando minhas conclusões.


As pressuposições estão na frase, mas não quer dizer que sejam verdades.
As pressuposições também podem ser inseridas na frase de tal forma que o interlocutor aceite de forma inconsciente...assim como as propagandas nos cenários de um filme!!

Algumas pessoas que são hábeis em comunicação, grande parte dos políticos ou palestrantes só se comunicam através de cenários para trabalhar com o inconsciente das pessoas, isso porque, muitas vezes o consciente é resistente, ele analisa a mensagem e rejeita, então por meio das pressuposições é possível desarmar o consciente, implantar ideias sem que ele perceba.


EXPLICANDO A LEITURA MENTAL

Ai que entra a leitura mental  ou projeção de conteúdo.

Ao contrário das pressuposições linguísticas que são ideias que estão na frase, a leitura mental é algo que não está na frase, mas o interlocutor entende ou preenche lacunas da mensagem com conteúdos próprios ou julgamentos baseados em suas crenças, experiências pessoais ou culturais. É o "tirar suas próprias conclusões."

 No segundo exemplo acima seria leitura mental as seguintes conclusões:

  • Ele é saudável (porque corre todos os dias) - Mas nada na afirmação prova isso. Vai ver ele corre todos os dias porque é cardíaco..
  • Ele está em forma – nada prova isso. Ele pode ter uma alimentação errada e ser obeso.
  •  Ele é rico (porque mora perto do mar) Oi? Onde se afirmou isso?
  • Ele é empresário – nada no texto afirma isso;
  • Ele tem uma vida mansa já que corre todos os dias de manhã – ele pode ter horário flexível ou acordar mais cedo.
  • Ele é importante porque decide os rumos da empresa dos clientes – mas os rumos podem ser com relação à empresa onde ele trabalha e não do cliente.

IMPORTANTE:
A leitura mental se baseia em palavras ou ideias que não foram ditas ou inseridas, porém um texto ou uma fala pode ser formulada de tal maneira que propositalmente possa gerar diversas leituras mentais nas pessoas.

Vamos ver exemplos de pressuposições linguísticas e de leitura mental?

“Quero te contar sobre os desafios que vivi depois que ganhei meu primeiro milhão: aprendi muito sobre o ser humano.”

Essa frase foi dita por Robert Kiyosaki  autor do livro ‘Pai Rico, Pai Pobre’.
Segundo Mauro Pennafort especialista em Neurociência, Master em PNL e Hipnose Ericksoniana, em todos os cursos que ele coloca essa frase como exemplo de pressuposições linguísticas as pessoas fazem leituras mentais baseadas em suas crenças pessoais com relação ao dinheiro ou pessoas ricas.

Ideia central: 

quero falar sobre desafios 

Pressuposições:
  • Ele viveu desafios
  • Ele já ganhou seu primeiro milhão
  • Acha que aprendeu sobre as pessoas
Leitura mental:
  • Ele conheceu pessoas interesseiras. - Não foi dito isso! Geralmente quem  tem crenças limitantes com relação a dinheiro  faz essa leitura mental!
  • Sofreu com falsidade. Ele também não falou em falsidades
  • Dinheiro não trás felicidade. – Não foi dito na frase.
Como podemos observar no exemplo do Pennafort, as pessoas tiram conclusões baseadas em seu mundo, em seu “mapa mental”, e crenças.

Para Milton Erickson e Richard Bandler em terapias e coach as leituras mentais devem ser exploradas através de perguntas para identificar os critérios que a outra pessoa utilizou para chegar a determinadas conclusões.
Desta maneira, consegue-se chegar até as suas crenças mais profundas e conseguir ressignificá-las.

Vamos usar o exemplo acima e supor que uma das pessoas do curso do Pennafort tenha afirmado:

Ele disse que aprendeu sobre o ser humano porque conheceu pessoas interesseiras.”

Uma maneira de explorar as crenças e ampliar o mapa da pessoa é perguntar:
“Como exatamente você sabe que ele conheceu pessoas interesseiras?”


Com uma pergunta assim a pessoa pode refletir sobre suas crenças.

A leitura mental, segundo Joseph O´Connor e Sue Knight  também é uma distorção na qual você supõe o estado interno de outra pessoa ou supõe  que a outra pessoa sabe o que vai no seu intimo. Nas duas situações, você projeta seu mapa de mundo.

Agora observe essas declarações:

“Percebi que você ficou o tempo todo de braços cruzados e calado enquanto o cliente estava falando.”

“Percebi que você ficou totalmente irritado e pensando mal do cliente enquanto ele estava falando.”

Uma dessas frases é simples constatação e a outra uma leitura mental.



FALÁCIA DO ESPANTALHO



É quando a pessoa faz uma leitura mental muito distorcida da mensagem, para tirar o foco do assunto principal, geralmente porque não tem argumentos. Essa maneira de fazer uma leitura mental distorcida é bem comum em discussões em redes sociais principalmente em assuntos polêmicos.

É  o dar um significado diferente para o que a outra pessoa falou para atacar a ideia  criada/distorcida porque é mais fácil do que argumentar a ideia principal.

As pessoas usam a técnica da Falácia do Espantalho inconscientemente ou conscientemente.

Exemplo:
Em uma discussão sobre o casamento entre homossexuais, alguém fala que não gosta do Jean Willys, um dos principais defensores da causa gay:


“Acho a causa válida, mas não gosto da postura do Jean Willys”.

A outra pessoa  usa uma leitura mental distorcida para criar um espantalho e rebate:


“Então você não gosta do jeito dos gays se comportarem. Você é homofóbico”.


Repare que a primeira pessoa falou que não gosta da postura do Jean e não que não gosta do jeito dos gays ou como eles se comportam.


No facebook é possível perceber que a maioria dos debates acabam em leitura mental e na falácia do espantalho e todos nós fazemos isso em maior ou menor grau, inconscientemente ou conscientemente,



Ricard Blander em seu livro ‘A Estrutura da Magia - Um livro sobre Linguagem e Terapia’ alerta que a linguagem deleta, distorce ou generaliza parte da nossa experiência, destaca alguns elementos e  omite outros. Lembrando que na maioria das vezes isso é feito inconscientemente. A pessoa que recebe a mensagem também deleta, distorce ou generaliza de acordo com seus filtros e mapa de mundo.

Para tanto é aconselhável que o emissor da mensagem seja o mais específico possível e o receptor separe o que foi falado do que ele supõe.

Para evitar as leituras mentais distorcidas é importante formular perguntas para o interlocutor ou considerar o que são as pressuposições da mensagem da outra pessoa e o que são as suas suposições.

Vamos fazer um resumos do que foi dito aqui?
  • Pressuposições Linguísticas são os cenários da fala/texto que acompanham a ideia central.
  • Pressuposições pode ser elaboradas para influenciar
  • Nem sempre as pressuposições são verdades
  • Pressuposições estão na fala/texto e não são o que você supõe
  • Leitura mental é o que você supõe em um texto/fala 
  • Pessoas podem elaborar textos/falas para gerar leituras mentais
  • As leituras mentais dizem muito das crenças e mapas das pessoas
  • A Falácia do Espantalho é uma técnica de distorcer uma mensagem, para atacar/debater a ideia distorcida e não a ideia original.



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