segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Todos mentem. Você Também


A maioria de nós é constrangedoramente inepta para detectar mentirosos. 
David Livingstone Smith.

Você pode afirmar agora que não mente ou que detesta mentira, mas eu posso concluir com toda a certeza, mesmo sem conhecê-lo (a) pessoalmente que você já mentiu hoje!

Até os animais mentem! Observe o vídeo.



As pessoas em geral não admitem que mentem devido a impressão negativa que o ato de mentir tem na sociedade. Estudos sobre a frequência da mentira, elaborados por Robert Feldman na Universidade de Massachusetss constatou que uma pessoa normal mente pelo menos uma vez a cada dez minutos de conversa...só que a maioria delas nem percebe! Outros estudos foram realizados em várias línguas ou culturas e o resultado, com poucas diferenças, constatou que a mentira é uma prática habitual e cotidiana.

Você cresceu mentindo!

Bebes muito cedo aprendem a enganar os pais quando percebem que chorando  recebem atenção e colo. É o que os mais velhos chamavam  de “choro de manha”. A psicologia moderna afirma que não pegar o bebe quando ele chora pode criar um trauma, que ele pode se tornar inseguro, mas será que pegar o bebe quando se sabe que é manha não é um reforço para o ato de mentir?
Quando os bebes crescem os pais conseguem detectar as mentiras  facilmente, porém essa capacidade vai se deteriorando quando os filhos vão se tornando adolescentes e aprimoram a capacidade de enganar e mentir. Por esse motivo, é comum pais descobrirem, às vezes tarde, quando seus filhos adolescentes mentiram.

Tipos de mentira

Segundo os estudiosos as pessoas mentem em benefício próprio ou em benefício dos outros, sendo as primeiras são bastante prejudiciais, enquanto que as segundas são as chamadas "mentiras sociais".
Um exemplo: Você encontra uma pessoa amiga que não via há anos e diz: “Você não mudou nada!” quando visualmente ela está bastante mudada e envelhecida. Por se tratar de uma pessoa muito querida, você quer elogiá-la, quer dizer algo positivo e não percebe problema em mentir. Outro exemplo  para a mentira social é a mãe que finge felicidade ao receber um presente que não gostou no dias das mães.
No livro ‘Como Identificar um Mentiroso’, Dr. David Craig afirma que nem sempre as mentiras sociais são tão inocentes e que muitas vezes podem ser muito mais significativas e necessárias. Necessárias? Isso é correto? Sim!
Um  exemplo?  Você testemunha uma mulher, vitima de agressão do marido, sair fugindo de casa e se esconder na casa da vizinha. O homem enfurecido pergunta: “você viu a minha mulher?” O que você faz? Diz a verdade,  entrega uma vítima indicando onde ela está escondida ou apenas mente e responde: “não, eu não vi.”? Essa é a mentira que pode salvar uma vida, ou seja, uma mentira necessária.

As pessoas mentem com corpo e com as palavras

Mentir provoca um gasto de energia nas pessoas, exige uma necessidade de criar ou dissimular uma emoção, exige tentativa de dissimular possíveis expressões faciais, a história contada tem que ter detalhes e ser no mínimo coerente. Para decifrar mentiras, podemos prestar atenção na linguagem corporal, que nos mostra os sinais, mas também temos que prestar atenção no que a pessoa diz, o que chamamos de  “Análise do Discurso”.

Na análise do discurso, algumas artimanhas de um mentiroso incluem repetir uma pergunta e até antecipar a resposta: “Antes de você perguntar, gostaria de dizer...”

Ok..mas como detectar mentiras?

Se você acha que vai detectar as mentiras do seu parceiro (a) ou filhos, chefes ou subordinados com facilidade, não fique tão certo disso, pois o fator de intimidade pode atrapalhar sua análise, tanto para o sim quando para o não. Por esse motivo  muitos políticos continuam se elegendo mesmo quando está evidente o quando mentiram ou mentem. 
Quando uma pessoa está envolvida em uma situação, quando quer acreditar em algo/alguém, mesmo que os sinais da mentira sejam claros, ela não percebe.  Não percebe porque nosso cérebro tem uma capacidade muito grande de generalizar, distorcer ou deletar informações, focando naquilo que quer, fazendo  as pessoas acreditarem naquilo que desejam.
Em tese, as pessoas tendem a se superestimar com relação a capacidade de detectar mentiras, que em geral, é de somente 50%, o que é pouco considerando que 90% das mentiras são acompanhadas por sinais verbais e não verbais.


A mentira provoca uma emoção que provoca sinais

Vamos ver alguns desses sinais:

Quando a pessoa mente, o ato provoca algumas emoções como: medo, desprezo, prazer de enganar, culpa, etc., e todas essas emoções provocam os sinais que Paul Ekman, especialista em Linguagem Corporal, mais especificamente de expressões  e microexpressões faciais, chamou de  “pontos quentes”.

A mentira pode ser a respeito de uma sensação. Exemplo, uma pessoa fala para o médico que não está mais deprimida (um exemplo que aconteceu com Paul Ekman), mas no íntimo está prestes a se suicidar. Neste caso, esta pessoa precisa ocultar a emoção da depressão ou tristeza e usar um disfarce que pode ser uma animação exagerada e um sorriso falso. Os “pontos quentes” nesse caso são o comportamento exageradamente animado e o sorriso falso que pode ser facilmente percebido como mostra a figura.

  
No riso verdadeiro, por causa da ação dos músculos  zigomático maior e orbicular do olho , as bochechas se elevam, os olhos ficam comprimidos formando as rugas e há um pequeno arqueamento das sobrancelhas. No sorriso falso  ou social as pessoas apenas movimentam a boca pois o músculo orbicular só é ativado por sentimentos verdadeiros, pela emoção.

Mesmo tentando encobrir a real emoção, é possível perceber esses sinais, com um olhar mais atento, mais perspicaz.

A emoção pode ter relação com o medo de ser descoberto, de ser desprezado, exposto ao ridículo ou desacreditado, uma traição, por exemplo, e  os “pontos quentes” podem estar relacionados com o sistema nervoso, fazendo a pessoa vai ficar mais inquieta, gesticular mais do que o normal ou ficar mais contida, hesitar ao responder uma pergunta,  descrever detalhes em excesso, repetir várias vezes a mesma frase, etc.
Nestas “pistas quentes” entram os famosos gestos de colocar a não no rosto, nariz, etc., que são conhecidos como gestos de mentira no senso comum.  

Richard Bandler que codificou a PNL afirma que os movimentos oculares nos fornecem uma pista dos caminhos que a mente está percorrendo. Mostra se a pessoa está acessando imagens , sons, emoções já vividas ou vistas ou criando algo ainda não visto, ouvido ou sentido. Mais informações sobre pistas oculares,  pode ser lida neste artigo: http://www.dicasdamyrian.blog.br/2015/02/linguagem-corporal-o-segredo-dos-teus-olhos.html. 

Para alguns especialistas em linguagem Corporal, esta informação não procede, alguns a combatem veementemente, eu particularmente como estudiosa de PNL acho totalmente coerente, mas também sei que as regras não  funcionam para todos.
Na sequencia de fotos, da esquerda para a direita,  quando o repórter pergunta: “vocês afirmam e reafirmam que uma terceira pessoa entrou e matou Isabela?” . A resposta foi “Com certeza”, porém Alexandre baixa o olhar e em seguida olha para o lado. Ana Carolina se mantém os gestos contidos durante toda a entrevista


A crença de que quem mente não mantém o olhar no interlocutor, não é uma regra, mas é bem comum em crianças e adolescentes. Adultos com atitudes infantis ou emocionalmente inseguros têm mais dificuldade em manter o olhar.  A maioria das pessoas, no entanto, mantém o olhar fixo no interlocutor para receber um feedback da sua mentira. É exatamente esse feedback que vai disparar as emoções de medo, culpa, prazer, nos dando em seguida as “pistas quentes”.

A pergunta é: você quer mesmo detectar mentiras nos amigos, no parceiro (a)nos subordinados, naquele político que você acredita que é o salvador da pátria? Detectar mentiras requer desconstruir também nossas crenças ou desestruturar nossos mundos.


Obs.: As análises realizadas neste artigo são baseadas em estudos de expressões faciais de Paul Ekman, PNL e Linguagem Corpora.